Vídeo-aula 28: O professor não pode estar só (parte 2): O espaço interdisciplinar

Aula de Jaqueline Crempe (Psicóloga)

Fonte: XTimeline

A Constituição Federal, de 1988 prevê a "igualdade de condições para acesso e permanência na escola"como sendo um "direito de todos". Porém, na prática, "(...) não se tornou realidade para milhares de crianças e jovens (...) que apresentam necessidades educacionais especiais, vinculadas ou não a deficiências" (Claudia P. Dutra 2004).

As necessidades educacionais especiais (NEE) trazem implicações quanto:
- ao modo de aprender (facilidades x dificuldades)
- ao modo de comportar-se na sala de aula

Fonte: Canal Educar


Esquematicamente, a inclusão na sala de aula ocorre com o professor sozinho, e frequentemente segue o seguinte padrão:
01 professor + 40 alunos + aula programada (matéria) + diferentes modos de aprender + diferentes modos de comportar-se = "frustração do professor" e a percepção de "inadequação do aluno" no ambiente da sala de aula


A persistência das dificuldades do aluno colocam em questão as expectativas do professor sobre o potencial deste aluno e sobre a sua própria capacidade de ensinar. Tudo isso gera frustração.

Lidar com a frustração envolve rever as expectativas e a reconsideração sobre onde este aluno tem possibilidade de chegar. Este momento de lidar com a frustração deve ocorrer nos horários coletivos dos professores com a coordenação da escola.

Nesse processo, aluno e professor acabam ficando responsabilizados pelo insucesso. O aluno fica subestimado em relação às suas capacidades e fica excluído, pois passa-se a pensar que não há o que ser feito. A mesma responsabilização ocorre ao professor, que se sente desvalorizado e desestimulado.

Afinal, quem pode ajudar nessa situação em que aparentemente não há o que fazer?


A Equipe escolar deve fazer encaminhamentos e realizar a busca a suportes, parcerias e convênios. Deve também acionar a equipe interdisciplinar disponível, quais sejam os serviços de saúde e de assistência social. Isto vai aumentar as possibilidades de intervenção e a criança ganha motivação, sentindo-se mais capaz, e o professor perceberá que não está sozinho.

É preciso, porém haver uma forte integração entre os profissionais das diferentes áreas, numa atuação interdisciplinar, para que não haja sobreposição de atuação e nem lacunas.

O diagnóstico indica as dificuldades e também as potencialidades, norteando as ações do professor para desenvolver estas potencialidades do aluno.

Fonte: Portal Terra


O professor também não pode se deixar estar só, precisa exigir da equipe escolar o cumprimento de seu papel no estabelecimento das parcerias necessárias.

É essencial sempre procurar refletir sobre as expectativas que temos acerca dos alunos. E enfatizar as potencialidades, os avanços e não focar só nas dificuldades e insucessos, dessa forma "visando ao pleno desenvolvimento da pessoa", como prevê a nossa Constituição Federal e como se espera que seja a atuação dos professores e da Escola.

Vídeo-aula 27: O professor não pode estar só (parte 1)

A professora Cláudia Yazlle volta a falar sobre os participantes do processo de inclusão e descreve em linhas gerais como cada esfera atua no acolhimento da criança com NEE.

O esquema abaixo mostra que a integração entre a Família, a Escola e os profissionais da área da Saúde é essencial para que o processo de inclusão ocorra de fato. É, portanto, um processo complexo e amplo.

Prinscreen de trecho da videoaula 27.


As famílias das crianças com NEE
Esperam que seus filhos possam de fato estarem incluídas, sendo acolhidas de verdade.
Por muito tempo buscou-se a inserção social, mas hoje também se espera que estas crianças aprendam os conteúdos que a escola oferece a todas as crianças.

Demais famílias
Inicialmente têm um certo receio sobre como será a convivência com a criança com NEE. Mas há muitas familias que valorizam a inclusão como um princípio ético e solidário, uma oportunidade de que seus filhos aprendam valores humanos importantes, respeitando a diversidade num ambiente heterogêneo.

Professores
Muitas vezes se questionam se estão de fato preparados para receber e atender devidamente a criança com NEE.
A professora Cláudia questiona esta dúvida, considerando que a LDB data de 1996, e desde então já previa o atendimento às crianças com NEE, então, como é que os professores ainda hoje se sentem despreparados?
É preciso considerar que, embora a LDB garanta este atendimento, as universidades, em seus cursos de formação de professores, muito raramente oferecem uma formação adequada para que os professores atendam a estes alunos. Por isso consideramos que a insegurança dos professores não é infundada. É preciso sim que as instituições que formam professores estejam mais abertas a estes debates e a este tipo de formação, que também deve ocorrer dentro da escola, com a promoção de compartilhamento de experiências e parcerias com profissionais da área da Saúde.

Crianças com NEE
É importante conhecer de fato quem é a criança, suas habilidades, potencialidades e dificuldades e identificar suas necessidades escolares. Ouvir e observar é o primeiro passo.

Demais crianças
Preocupação do professor em relação as outras crianças enquanto estiver voltado para a criança com NEE. Segundo a professora, é importante estar tranquilo quanto a isso, pois o que serve para a criança com NEE também é útil para todo o grupo.
As demais crianças mostram curiosidade, perguntam, às vezes imitam, tentam estabelecer vínculos.

Escola
A inclusão não é responsabilidade exclusiva do professor que está com a criança na sala de aula. A escola como um todo deve participar do projeto de inclusão, estabelecendo uma equipe de trabalho e reflexão, planejamento e avaliação.

Profissionais da Saúde
Por estarem fora da escola, sua esperiência clínica geralmente está mais voltada para a deficiência da criança, sem olhá-la globalmente. Estar dentro da escola ajuda a ampliar esta visão, permitindo uma parceria produtiva entre a Educação e a Saúde.

Vídeo-aula 26: Professor autor

A última das três dimensões que devem fazer parte da formação constante do professor é da autoria. O professor Gabriel Perissé frisa que existe uma gradação necessária: primeiro lemos, depois refletimos e assimilamos para, então nos tornarmos autores, para criarmos. Esta terceira dimensão também se relaciona com a da leitura e da reflexão, portanto.

Existe nos autores uma autoridade, pois um autor não fala por ninguém, mas por si próprio. Todo autor fala sobre o que pensa, sobre suas convicções, que foram sendo construídas a partir da leitura e da reflexão que faz sobre o que enxerga e se relaciona no mundo.

Quando falamos em autoridade, em autoria, podemos falar também sobre autonomia. Esta, para ser ensinada, precisa ser vivida, pois não se pode ensinar autonomia sem ser autônomo. O ditado "manda quem pode, obedece quem tem juízo..." precisa ser questionado pelos professores, pois o professor precisa ser o autor de seu próprio trabalho, capaz de decidir por si próprio como ensinar os seus alunos, sendo autor de suas ações.

Fonte: Fanpage "Educação" (Facebook)

A autoria está muito ligada também ao exercício da liberdade. Esta se experimenta ao entrarmos em contato com um trabalho que nos dê prazer. O ato de criar pode nos colocar em êxtase, ao entrar em contato com a essência do que nos move e isto é a percepção da própria liberdade. Isto é o que deveria ocorrer na sala de aula, no encontro entre professor e alunos. Mas em um sistema montado sobre uma estrutura de séculos, que mantém o formato linear e uniformizador, este exercício apesar de difícil, deve ser feito, para que a monotonia não esvazie o sentido do aprender.

"O mínimo que se exige é que cada professor elabore com mão própria a matéria que ministra. Tal elaboração será uma síntese barata, se for reprodutiva, mas será criativa, se acolher tonalidade própria reconstrutiva". (Pedro Demo. Futuro e reconstrução do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2004)


Antes de reconstruir algo, necessariamente deve ocorrer a ruptura. Para que algo se renove, como por exemplo a prática docente, é preciso em primeiro lugar, romper com a prática vigente, para então reconstruí-la. Devemos reconstruir sem copiar, mas a partir de nossas concepções em acordo com as concepções de todos os que estão envolvidos no processo educativo.




O professor autor na Idade Mídia

Vivemos um tempo em que as crianças já nascem "conectadas". Algumas inclusive estão se alfabetizando no teclado do computador. Diante disso, os professores devem estar incluídos neste processo, fazendo-se presentes não somente com os perfis nas redes sociais, mas para além disso, colocando suas ideias, escrevendo, publicando em blogs, participando de fóruns e agregando alunos ao processo de ler, refletir e ser autor. Estas são ações triviais e ao mesmo tempo extremamente necessárias, e que coincidem com nossa própria existência.

Vídeo-aula 25: Professor pensador

O professor Gabriel Perissé falou sobre a dimensão da reflexão na formação docente.


"O exercício da curiosidade, da reflexão e do diálogo com o extramental nos leva ao momento das decisões"

A curiosidade é a característica daquele que se inquieta por querer saber, quem pergunta, quem não satisfaz com as primeiras respostas e quer sempre ir mais a fundo nas questões. A curiosidade é natural ao ser humano e deve ser cultivada, pois perdê-la significa não mais se interessar.

Exercitar a curiosidade e a reflexão, é essencial, pois não somos somente receptores de informação, nós precisamos refletir para poder assimilar o que aprendemos. E assimilar significa tornar-se semelhante ao que estamos aprendendo. À medida que nos assemelhamos às coisas geramos "filhos", concebemos, ou seja, formamos nossas concepções!


Trazendo novamente a dimensão da leitura, que está intimamente ligada à reflexão, o professor apresenta primeiro um conto de Clarice Lispector, que fala sobre um menino muito solícito, e era o melhor aluno da turma, "...mas ele tinha um caracol..." e toda noite, com um alfinete, ele torturava este caracol. O que este conto nos fala é que não é possível ao ser humano ser bom o tempo inteiro, todos nós temos nosso "caracol". Do mesmo modo, os professores também tem seus caracóis.

Ao ler assimilamos um pouco da visão de mundo do autor, e modificamos e acrescentamos à nossa própria visão de mundo. Esta é a relação entre a leitura e reflexão.


Também foi colocada uma frase de Franz Kafka, que diz: "Tu és a tua própria lição de casa."
Hoje em dia há muita "lixão" de casa, tarefas que são extremamente desgastantes, inúteis, que transformam a relação das crianças com o conhecimento em algo desagradável.


Quando a lição de casa é para que a própria criança se desenvolva, é útil. Nisso consiste uma pedagogia reflexiva: não apenas transmissões de informações, mas um encontro entre as iniciativas do professor e a dos alunos, sua criatividade e curiosidade.


"É o choque do imprevisto que nos obriga a pensar, que nos comove inteiramente, que nos deixa perplexos, que nos leva a problematizarmo-nos, a pensar o que até agora não podíamos pensar." (Walter Koan. Infância. Entre educação e filosofia. Belo Horizonte: Autêntica, 2003)

Estamos sempre sendo bloqueados para não pensar. a tarefa do educador é surpreender, pois é ela que está na base do conhecimento, a admiração.

O professor leitor torna os temas interessantes. à medida que ele leva essa realidade surpreendente para a sala de aula, num clima reflexivo, num clima de aposta na inteligência do aluno, ele também se transforma num texto que vai fazer o aluno se interessar. Se transforma num mensageiro de notícias que não estavam previstas.

Vídeo-aula 24: Modelos de ensino: das concepções docentes às práticas pedagógicas

A professora Claudia Helena Yazlle propôs nesta aula uma reflexão sobre os desafios que a inclusão tem trazido no atual contexto de transformações no campo da Educação, nas funções da escola, nas práticas e modelos de ensino. Nos últimos anos, mudanças nas leis, mudanças na cultura, na sociedade, novas demandas do mercado de trabalho, mudanças nas relações culturais e sociais, implicaram em uma transformação na formação e identidade profissional dos professores, que no passado focavam sua atenção nas próprias ações, na forma de ensinar e hoje passam a ter no seu trabalho o foco na aprendizagem e na diversidade dos alunos.

A inclusão é um processo complexo, que envolve a ação conjunta entre a família da criança, a escola e os profissionais da área da Saúde, que são os protagonistas nestes processo, mas não são os únicos que fazem parte. As demais crianças da turma e da escola, os outros pais, os demais professores e funcionários da escola, a direção e coordenação também fazem parte do ambiente no qual a criança com NEE está sendo incluída.

A seguir os principais pontos que descrevem como se dá a atuação de cada um no processo de inclusão das crianças com necessidades especiais na escola:

Fonte: Bbel

Família
De crianças com NEE:
- busca de aceitação e acolhimento do filho (insegurança sobre matricular na escola regular)
- estabelecimento de vínculos e relações sociais
- autonomia e independência
- busca de aprendizagem
 
Demais famílias:
- receio de imitação e agressividade
- medo de "perda" na aprendizagem
- valorização da inclusão como princípio ético



Professores
- Sentem-se preparados?
- como garantir a aprendizagem? o que estes alunos vão aprender e como?
- como lidar com as diferenças dentro do grupo?
- disciplina e regras serão as mesmas para todos?

 

Crianças:
Com NEE:
- ouvir e escutar
- reconhecer capacidades e habilidades
- identificar necessidades
- paradoxo da pluralidade

Demais crianças:
- curiosidade e interesse pela diferença (acolhimento)
- regras do grupo: negociação e reflexões
- respeito pelas diferenças



Escola:
- criar espaços para reflexão, planejamento e avaliação do processo de inclusão
- espaços coletivos de orientação
- assumir a inclusão como um desafio da escola, não apenas do professor
- estabelecer parcerias com outros profissionais



Profissionais de saúde:
- ênfase na dificuldade e deficiência (visão normalizadora)
- visão clínica e individual (não conhecem como é a criança dentro do grupo classe, eles também têm a aprender com a escola)
- pouco conhecimento do ambiente e dos desafios escolares
- importante parceiro no processo de inclusão

Vídeo-aula 23: A educação de pessoas com necessidades especiais é de fato ineficaz?

Nesta aula da professora Kátia Amorim o que mais chamou atenção foi o fato de que fazemos parte de um sistema de educação que mantém um modelo pautado na linearidade, na uniformização. Por mais que ao longo do tempo discursos se modernizem, novas teorias sejam incorporadas a projetos pedagógicos, o fato é que mantemos um mesmo modelo padrão, com turmas de mais de trinta alunos para apenas um professor. Como desenvolver as potencialidades de cada um? Como esperar que todos aprendam ao mesmo tempo? Como atender as necessidades de todos se cada indivíduo é um ser único? Estas questões valem para a Educação Especial e para a Educação Regular, que de fato não tem sido eficaz, como mostram os abundantes resultados de avaliações institucionais. A charge abaixo traduz muito bem a situação do sistema educacional, que não respeita as especificidades características de cada indivíduo:



Mas o essencial desta aula é a mensagem de que cada criança, tenha ela o tipo de deficiência que tiver, deve ser estimulada ao aprendizado. Não podemos pensar que pelo fato de a criança apresentar uma deficiência intelectual ela estará fadada a não se desenvolver intelectualmente. É preciso obter um diagnóstico que vise a conhecermos as características de cada criança, suas limitações, habilidades e potencialidades. O diagnóstico não pode estigmatizar, ele deve favorecer a tomada de decisões e o direcionamento das ações para proporcionar que a criança tenha de fato a chance de aprender mais do que a socialização por estar entre pessoas de sua idade.

Fonte: Anabolismo

A professora Kátia trouxe ricas informações sobre a plasticidade cerebral, que é uma característica do sistema nervoso que permite o desenvolvimento de alterações estruturais e funcionais em nosso cérebro. Isto significa que uma criança com um determinado tipo de deficiência pode desenvolver outras habilidades para "compensar" a deficiência. É o caso, por exemplo, de uma pessoa cega, que passa a desenvolver mais os outros sentidos, como o tato e a audição. A plasticidade cerebral é, portanto, uma capacidade adaptativa do cérebro. Por isso, é preciso investir em todas as crianças, nunca pensar que não há o que ser feito.

O professor, em parceria com a família no processo de mediação da criança precisa se inteirar das dificuldades que a criança apresenta, conhecer suas habilidades e desenvolver seus potenciais, desta forma está contribuindo para o desenvolvimento da criança com deficiência e um pleno processo de inclusão.

Vídeo-aula 22: Professor leitor

 

Esta aula do professor Gabriel Perissé fala sobre a importância da leitura como parte integrante da vida dos professores. Nossa civilização é calcada na palavra escrita, por isso ninguém constesta a importância da leitura. Mas se por um lado ninguém nega que ler é importante, por outro lado, os dados sobre a leitura no Brasil não são muito animadores.

Em média os brasileiros leem 4,7 livros por ano. No Brasil existe uma biblioteca para cada 33 mil habitantes e elas concentram-se nos grandes centros urbanos. Além disso, quase 70% das escolas públicas nem sequer possuem biblioteca.

Afinal de contas, o que é ler? Seria apenas o ato de decifrar sinais? Na verdade, ler é muito mais do que isso, conforme Perissé, "toda leitura é um aprendizado à distância: uma forma de aproximação com diversas realidades." Podemos nos aproximar de tudo por meio da leitura.


Todo aprendizado também é uma leitura. À medida que vamos aprendendo com as pessoas e as situações, estamos exercitando a capacidade de ler o mundo (Paulo Freire). Ler é abrir-se para a realidade.

Pesquisa de Maria Helena Martins, "Encruzilhadas de leituras" (no livro "Espaços da linguagem na educação", organizado por Mary Julia Martins Dietzsch. São Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2005) mostra que existem poucas referências de professores que demonstram ter uma ligação especial com os livros e a leitura. E já que não têm o hábito de ler, não ensinam os alunos pelo exemplo, restando-lhes apenas obrigar os alunos a ler. Quando a leitura se torna um dever desagradável, a não-leitura continua sendo a regra.

O professor que não tem o habito da leitura não convence o aluno de que a leitura é importante e prazerosa. Muitos professores são analfabetos funcionais. Guimarães Rosa falou sobre a existência dos analfabetos para as entrelinhas, que são os leitores que não compreendem o contexto, seja de um texto, seja de uma fotografia ou de uma situação. Os professores devem ser leitores de entrelinhas, sendo exemplos que mostram aos alunos a importância do saber ler e ter na leitura um ato prazeroso.


Segundo o professor Gabriel Perissé, a experiência da leitura pode questionar, ampliar, revolucionar, aperfeiçoar a nossa visão de mundo e também pode nos fazer criar um sistema pessoal de convicções.
O professor leitor transmite aos alunos a vontade de aprender. No encontro com diferentes temas, nosso repertório se amplia, o vocabulário torna-se mais amplo e nós, como seres humanos, nos tornamos pessoas mais interessantes.

A relação entre professor e aluno não pode se limitar à matéria a ser dada. É importante abrir novas janelas para temas que interessam aos alunos, que façam parte de sua vida e que lhes desperte interesse. A escola fica "chata" quando fica sem assunto, e assuntos conseguimos por meio de leituras!

Fonte: Fanpage "Educação" (Facebook)

Vídeo-aula 21: A complexidade da constituição docente

Nesta aula a professora Silvia Colello trata da complexidade que envolve a profissão docente, uma profissão que gera desgaste, que às vezes faz sofrer dadas as múltiplas funções e compromissos e a tensão e ansiedade em conseguir atingir as metas e cumprir com os compromissos que envolvem a carreira do magistério.

Até a década de 1970, o fracasso escolar era considerado como culpa do próprio aluno. Mesmo assim, para reverter o quadro, era preciso investir nas competências dos professores para melhorar o aprendizado dos estudantes.


Nos anos 1980, estudos de diversas áreas vão desestabilizando mitos como o da carência cultural, carência afetiva dos alunos, por exemplo, além de estudos psicogenéticos e estudos sobre o funcionamento cotidiano da escola (a rotina da escola contribuía para a escola como produtora do fracasso escolar) trazem uma nova conclusão: o culpado pelo fracasso escolar é a própria escola. E permanece a lógica de que o professor é quem deve resolver o problema, já que é ele quem está diretamente lidando com os alunos. Cursos pautados nessa lógica propunham dar aos professores ferramentas e conteúdos para que se revertesse o problema do fracasso escolar.

Anos mais tarde, novos estudos vão mostrando a constituição do professor como algo bastante complexo, com multiplos aspectos, que a professora Sílvia Colello sintetizou neste esquema:

Fonte: Printscreen de trecho da aula 21.


Todos estes itens que aparecem no esquema compõem o profissional docente. Os fatores extrínsecos estão relacionados à: onde o professor se formou, quanto ganha, ou seja, ao conjunto do que a pessoa fez para se tornar professor (a formação inicial e a formação continuada). Os fatores intrínsecos tem a ver com a formação pessoal, com os valores, visão de mundo. A profissionalidade (profissão + personalidade) tem a ver com a forma como o professor viveu a sua formação, como ele foi se assumindo enquanto ser professor.

A partir destes quatro eixos o professor vai se formando, tendo como base a sua visão de mundo e uma cultura profissional (como a profissão docente é entendida neste mundo).

Quanto aos saberes, o professor lida ao mesmo tempo com os saberes relacionados aos conteúdos (pedagógicos/metodológicos e os conteúdos curriculares formais) e com os saberes que envolvem as concepções sobre o que é o aluno, sobre o que é a aprendizagem e sobre o papel do professor, dentre outras concepções.

Tudo isso se dá a partir de condições objetivas de trabalho (onde trabalha, quantas aulas por semana, quantos alunos por classe, quanto recebe, que apoio tem) e também as condições subjetivas (como se sente, como lida com as inseguranças e incertezas). Tudo isso gera um jogo de satisfações e insatisfações.

Mas na prática, como as coisas acontecem? São muitos os desafios diante da realidade, ressaltando dois principais: a difícil construção de um ensino de qualidade e a desvalorização do ensino com consequente desintersse dos jovens pelo magistério (a cada ano diminui o número de jovens ingressando na carreira do magistério).



A decepção com a profissão faz parte da fala de muitos professores atualmente. Esta decorre principalmente do desgaste ao longo dos anos; e também pelo fato de a carreira docente estar comprometida por já ter nascido "na periferia do sonho" (caso de professores que inicialmente pretendiam seguir outro tipo de profissão, mas acabaram se tornando professores).
No entanto, cabe a cada um pensar no porquê de estar nesta profissão e acreditar que se estão na profissão que escolheram, precisam continuar lutando por melhorias, pelo reconhecimento, pelo sucesso de seu trabalho cotidiano.

Vídeo-aula 20: A complexidade no estudo dos processos de desenvolvimento humano

Nesta aula a professora Kátia Amorim tratou da questão dos processos de desenvolvimento e as diversas concepções que vigoraram ao longo da história. Estas concepções exercem infuência sobre a forma como o desenvolvimento das crianças ocorre, seja no âmbito familiar ou escolar. É importante esta reflexão para pensar sobre a questão da Educação Especial, considerando a maneira como a inclusão tem ocorrido.


Historicamente a forma como se concebe o desenvolvimento humano foi se alterando. Se inicialmente costumava-se observar a criança olhando apenas para ela, sem considerar o contexto no qual estava inserida, como se ela não dependesse de nada que estivesse fora de seu corpo, com o passar do tempo esta noção foi se transformando. Cada vez mais tem sido discutido o desenvolvimento da criança na relação com os outros. Por muito tempo atribuiu-se às mães um papel central na formação do indivíduo, posteriormente, estendeu-se à família o papel determinante na formação das pessoas. Atualmente tem se difundido a noção de que outros fatores além da família também são muito importantes nesse processo: a relação com outras crianças, outros adultos, o ambiente onde mora, os lugares que frequenta, a sociedade, enfim. A cultura passa a estar no centro da análise.

Foi citado o caso das meninas lobas, duas irmãs que foram criadas por lobos e adquiriram os hábitos destes animais: não usavam as mãos para comer, não falavam, andavam sobre os quatro membros e tinha comportamentos muito semelhantes ao dos lobos. Elas foram encontradas e levadas a um povoado da Índia, onde passaram a receber ensinamentos para se integrarem à sociedade humana. Este caso mostra o papel essencial da cultura como mediadora no processo de desenvolvimento humano.

 

Pensando em como e por quem as crianças são cuidadas ao longo de seu desenvolvimento, devemos incluir não apenas a família, mas também os professores. A família tem uma concepção sobre como cuidar de sua criança, enquanto que a escola, possui uma concepção diferente. Estas diferenças podem ocasionar conflitos.

As concepções que cada um tem sobre educação vão possibilitar diferentes práticas sociais com as crianças. Estas práticas podem ser delimitadoras, podendo interditar caminhos que poderiam ser trilhados pela criança. Não podemos predizer se uma criança vai ou não vai aprender. Temos de ver dentro das condições dadas, que percursos são possíveis, e possibilitar o acesso às crianças.

Montagem elaborada por Paula G. de Oliveira


Precisamos pensar se quando olhamos para uma criança estamos abrindo ou fechando portas, se as potencialidades estão sendo descobertas e encaminhadas. Toda esta reflexão faz-se necessária ao se pensar na inclusão de alunos com NEE nas escolas, pois, relacionando com o que foi abordado na aula anterior, sobre os estigmas, não podemos permitir que nem a família superproteja uma criança com deficiência, nem que a escola prive esta criança de se desenvolver plenamente em suas potencialidades. É preciso que, mesmo com diferenças nas concepções sobre a forma de cuidar da criança, família, escola, sociedade, possam ter em comum o objetivo de trabalhar conjuntamente na mediação entre a criança e o mundo, para que de fato ela seja incluída.

Vídeo-aula 19: O todo pela parte: a questão do estigma

Esta aula com a professora Ticiana Roriz abordou o estigma a partir da definição de Erving Goffman.

Inicialmente foi exibido um vídeo contando a história de "Pedro e Tina - uma amizade muito especial", baseada no livro de Stephen Michael King (Editora Brinque Book). A história conta sobre um menino que fazia "tudo errado", e que conhece uma menina que fazia "tudo certo". Os dois se tornam amigos e um passa a aprender com o outro.


A história nos faz refletir sobre características individuais que cada um de nós possuímos e que às vezes podemos querer exaltá-las ou escondê-las. O mesmo ocorre em relação ao outro: podemos ver no outro características que nos agradam e também características que nos desagradam. E há alguns atributos que em nossa sociedade são mais valorizados em detrimento de outros.

Goffman estudou sobre o estigma, que segundo ele é a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena.
"um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social, possui um traço que pode se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus" (Goffman)


A questão do estigma depende do outro. O indivíduo pode ter um traço que o diferencia, mas ele só se torna estigmatizado quando não é aceito plenamente pelo outro.

Podemos verificar situações de estigmatização quando, ao se referir a alguém com alguma deficiência, diz-se algo do tipo "Ela é cadeirante, MAS é bonita", ou "Tem deficiência auditiva, MAS é muito inteligente". Como se por ter algum tipo de deficiência a pessoa não pudesse ter qualquer outro atributo. E é daí que vem o título da aula, da atitude de tomar o todo pela parte, ou seja, julgar a pessoa pela deficiência que ela possui, excluindo qualquer possibilidade para além da deficiência.



Goffman também traz a diferença entre o estigmatizado desacretidado e o desacreditável: o primeiro é o que tem uma característica distintiva evidente (uma pessoa cega, ou com deficiência física) e o segundo é aquele em que a característica que o diferencia não é imediatamente perceptível (ex: epilepsia, doença mental, deficiência auditiva).

Nesses dois casos a relação professor e aluno pode se dar de maneiras diferentes. Imaginemos que no primeiro dia de aula, o professor vê um aluno com Síndrome de Down. A estigmatização se dá no momento em que ao ver a deficiência, o professor já traça um perfil desse aluno, antes mesmo de conhecê-lo em suas reais potencialidades e limitações. Por outro lado, pode ter na mesma turma um aluno com alguma característica não visível, epilepsia, por exemplo. O professor só vai saber dessa doença quando o aluno tiver uma crise na sala de aula. Até que isto aconteça, haverá tempo para que o professor conheça este aluno antes de sua doença, podendo conhecer suas verdadeiras potencialidades e limitações. Neste exemplo, a criança com Síndrome de Down ficou estigmatizada por conta de sua deficiência visível. É preciso que aprendamos a ver as pessoas para além da deficiência.

Outra forma de estigmatização descrita por Goffman: "tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir da imperfeição original". Isto ocorre quando se justificam todos os atos da criança pela sua deficiência, como eventuais erros, ou se a criança não toma a atitude que poderia ser esperada, por exemplo. Pode-se ainda generalizar a deficiência, quando por exemplo, alguém grita com um cego, como se ele não ouvisse, ou tratar uma pessoa com deficiência física como se fosse um bebê.

No encontro com os ditos "normais", a criança com deficiência pode se sentir exposta, sem saber como o outro vai percebê-la. Os menores atos podem ser sinais de capacidades notáveis. Ou erros menores ou enganos incidentais serem interpretados como decorrente de sua deficiência.

Quanto mais a criança com deficiência convive com os ditos "normais", mais ela vai aumentando seu repertório de situações vividas em sociedade, aprendendo a enfrentar situações constrangedoras e a resolver problemas que possam vir a enfrentar.



Devemos deixar de ter certezas que se baseiam em estigmas e enxergar a criança para além de sua deficiência, proporcionando-lhe as mesmas oportunidades que as demais crianças têm para desenvolver suas capacidades.

Vídeo-aula 18: A escola e as instituições culturais


Em continuidade à proposta de utilizar espaços externos à escola no processo educativo, a professora Rosa Iavelberg fala nesta aula sobre possíveis parcerias que a escola e o professor podem fazer com as instituições culturais, como museus, casas de cultura, parques, que geralmente oferecem projetos educativos a partir dos quais os professores podem criar projetos de trabalho em conjunto com as várias disciplinas.

Visitas a museus podem ser feitas pessoalmente, ou, no caso de instituições mais distantes, existe a possibilidade das visitas virtuais, através dos sites na internet. É o caso, por exemplo, do Museu do Louvre em Paris, que neste link: http://www.louvre.fr/en/routes/masterpieces-0 apresenta algumas obras com informações descritas em inglês. Os alunos podem apreciar as obras a partir das fotos no site e pode-se propor um trabalho com a disciplina Inglês para fazer as traduções dos textos, por exemplo.



Segundo a professora Rosa Iavelberg, utilizar as ferramentas tecnológicas de comunicação, como a internet, despertam o interesse dos alunos e os envolve nas aulas. No caso do museu do Louvre, a professora sugeriu trabalhar com a obra de Leonardo da Vinci, partindo da Mona Lisa, depois convidando os alunos a conhecerem as outras facetas deste grande artista, que desenvolveu invenções em diversas áreas.

Invenção de Leonardo da Vinci, Flying Machine. Fonte: Blog Miscelânea


No Brasil, foi sugerido trabalhar com o Museu do Homem Americano, no Piauí. Este Museu está próximo ao Parque da Serra da Capivara, famoso no mundo inteiro por ser um grande sítio arqueológico, com materiais de povos pré-históricos, como as inscrições rupestres feitas por diversos grupos étnicos, e que despertam interesse nas crianças. No site http://www.fumdham.org.br/ também é possível percorrer imagens do Parque e do Museu.


A partir da visita virtual a este Museu, pode-se estudar o que é a Arqueologia e como seu estudo colabora no conhecimento do meio ambiente. No link a seguir, há uma entrevista com a arqueóloga Niéde Guidon, arqueóloga e diretora do museu: http://noticias.ambientebrasil.com.br/entrevistas/2002/11/13/21674-entrevista-exclusiva-niede-guidon.html

Pode-se propor aos alunos que manifestem suas próprias expressões artísticas, em papel, ou mesmo no muro da escola, com autorização da comunidade. Pode-se propor que organizem seus trabalhos e que os exponham para a comunidade. Este tipo de trabalho é interessante para unir os alunos em torno de um interesse comum. E as possibilidades são muitas, para além dos exemplos aqui citados.


O vídeo abaixo dá algumas dicas de museus e como explorar bem a visita virtual:


 
 

Vídeo-aula 17: O professor e a cidade educadora

Nesta aula, a professora Rosa Iavelberg propõe uma integração entre a aprendizagem no contexto de uma cidade educadora. Parte-se do fato de que as paisagens que vemos diariamente estão carregadas de informações, as quais nem sempre observamos em sua totalidade.

Nosso olhar vai aprendendo sobre aquilo que observamos e compreendemos na paisagem. Este processo pode ocorrer de modo espontâneo ou com a mediação, que o professor pode realizar por meio de estudos do meio. Também é importante ter em mente que a paisagem da cidade contemporânea abriga elementos contemporâneos que convivem com elementos antigos, de diferentes épocas.

Alunos visitam o centro da cidade de São Paulo.


O professor pode utilizar os equipamentos e as obras de arte presentes no espaço público com o objetvo de expandir o universo cultural dos estudantes, conscientizando-os sobre este universo cultural do qual fazemos parte.

Foi apresentada uma sugestão de roteiro de visita à Estação da Luz, na região central de São Paulo. Este é um ponto turístico de grande importância histórica para a cidade.

Para um trabalho desta natureza, é essencial planejar as etapas: antes, durante e depois a visita. Levantar previamente as informações básicas do local a ser visitado, preparar os alunos para as atividades que serão desenvolvidas no local, o que eles encontrarão e como poderão desenvolver o trabalho e também verificar o que os alunos já conhecem sobre o local.
Durante a visita o professor deve fazer a mediação entre os objetos e os alunos, mas também deixando-os desfrutar a visita, para que tenham o prazer de aprender por si mesmos e também trocando informações entre os alunos durante a visita. Eles podem colher informações sobre o que mais lhes interessar, informações que após a visita poderão ser discutidas em sala de aula, no grupo. Após a visita retomam-se os conteúdos e propõem-se tarefas que ajudem a assimilar o que foi trabalhado e observado na visita. É importante que os alunos possam trocar informações entre si, falando sobre suas impressões.

Crianças visitam o entorno do Mercado Municipal de São Paulo, observando com a mediação da professora, que lhes dá informações que os ajudam a olhar o prédio com um novo olhar. Fonte: www.sidarta.org.br


No planejamento do projeto o professor deve considerar os materiais de pesquisa e as ações que poderão desenvolver, os conteúdos que serão mais adequados ao grupo de alunos que fará a visita, e o interesse e envolvimento que o projeto poderá despertar no salunos.

A importância desse tipo de atividade é proporcionar que o aluno conheça os espaços públicos e os compreenda para além do que se vê cotidianamente, interpretando a arquitetura da cidade, o significado dos monumentos e onde estão localizados, o contexto em que foram feitos etc. O aluno saberá que os elementos que compõem a paisagem da cidade têm um porquê de serem e estarem da forma como estão, que há uma história por trás de cada elemento.

Também é interessante propor trabalhos de pesquisa em que a memória dos moradores de um bairro, os familiares dos alunos possam contribuir com depoimentos, documentos, fotografias, pois permite aos alunos reconstruir a memória do lugar onde estão, passando a ter um novo olhar sobre o lugar do qual fazem parte.

Vídeo-aula 16: Trajetórias Escolares de alunos com deficiência e a Educação de Jovens e Adultos: pensando o fracasso escolar

 

A professora Lucia Tinós apresentou dados de duas pesquisas, a primeira feita por ela a professora Kátia Amorim, uma pesquisa quantitativa que traz um mapeamento de dez anos dos alunos com deficiência matriculados na EJA. A segunda é uma pesquisa qualitativa, da professora Lúcia Tinós, apresentando a trajetória escolar de duas pessoas com deficiência até sua chegada à EJA.

Primeiramente ressaltou-se que a EJA (Educação de Jovens e Adultos) aparece na legislação primeiramente no artigo 37 da LDB, como modalidade de ensino para jovens e adultos que não tiveram oportunidade de se escolarizar na idade escolar. Outro documento é o Parecer nº 11/2000 do CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica) que traz orientações sobre a organização e a função dessa modalidade de ensino.

Os dados da primeira pesquisa traçam um perfil sobre quem é o aluno da EJA, que se constitui por sujeitos compostos pela e na diversidade; em sua maior parte proveniente de camadas socialmente marginalizadas (negros, idosos, trabalhadores, populações rurais e alunos com NEE).

Verifica-se também aumento dos alunos com deficiência dentro do público da EJA, ao mesmo tempo em que as matrículas totais nessa modalidade vêm diminuindo com o tempo, conforme tabela apresentada na aula, aqui reproduzida:

Fonte: Print screen de trecho da aula 16


Da segunda pesquisa foi apresentado o caso de uma aluna atualmente com 30 anos, matriculada na EJA de uma escola municipal, cursando o ciclo II do ensino fundamental. Ela tem deficiência física (distonia generalizada, deficiência que compromete o controle dos membros) e ao longo de sua trajetória escolar, passou por escolas privadas e públicas, especiais e regulares.

Esta aluna foi alfabetizada no período entre seus 4 e 10 anos de idade quando estava em uma escola especial privada. Aos 13 anos passou para uma escola especial municipal, onde se sentiu discriminada, pois não frequentava aulas, apenas participava de oficinas, período no qual ela relatou ter desaprendido muitas coisas.

Dos 23 a 24 anos de idade ela passou por uma escola especial filantrópica, onde contava com atendimento especializado para sua deficiência, porém neste caso, a escolarização fica em segundo plano. Aos 26 anos esta aluna teve sua primeira experiência na EJA, mas ficou impossibilitada de continuar frequentando pela dificuldade de se deslocar de casa para a escola, já que não contava com o transporte gratuito por morar perto da escola. Este ponto é muito sério, pois não foi levado em consideração o fato de que a aluna possui deficiência física e que tem o direito ao acesso à Educação.

Aos 27 anos ela matriculou-se numa escola municipal, no ensino fundamental I. Mas foi matriculada numa turma de segunda série, mesmo já sendo alfabetizada. Aqui fica claro que certamente não foi feito nenhum tipo de avaliação diagnóstica que pudesse verificar que ela já era alfabetizada.

Com 28 anos ela entrou no EJA novamente e desta vez conseguiu concluir o ciclo um do ensino fundamental. Ela relata que a professora teve um papel fundamental em seu sucesso escolar, pois colocou-se disponível para ouvir a aluna em suas necessidades. Ela então conseguiu o certificado do ciclo I e atualmente está cursando o ciclo II do fundamental, na mesma escola.

A partir da trajetória relatada, coloca-se a reflexão, se a EJA é uma oportunidade ou uma armadilha, uma vez que nem todos têm o mesmo sucesso escolar que a aluna da pesquisa apresentou. No estudo realizado, apenas dois alunos com deficiência conseguiram obter certificação no período do levantamento (2004-2007). O tempo médio de permanência na escola é entre dois a três anos, chegando a mais tempo, porém, sem avanços na aprendizagem.

É importante levar em consideração que os estudantes da EJA são jovens e adultos que trazem expectativas, projetos para seu futuro. E que eles geralmente já chegam à EJA com históricos de exclusão escolar e também social.

Apesar das legislações vigentes, as políticas públicas de educação especial são insuficientes. Os alunos com deficiência são "invisiveis", pois os dados sobre estes alunos são por vezes insuficientes, ou mesmo inexistentes.

Segundo a professora Lucia Tinós, nós professores, coordenadores, educadores, preciamos tornar visíveis as pessoas que historicamente não enxergamos, não escutamos, não falamos, não acolhemos e não acreditamos, pois elas são muito mais capazes do que pensamos.

Vídeo-aula 15: Como anda a educação especial no país?

A professora Kátia  Amorim apresentou nesta aula alguns dados sobre a situação da Educação Especial no Brasil.

Inicialmente foi apresentado um gráfico do MEC sobre a evolução na proporção de matrículas de alunos com NEE em classes comuns do ensino regular. O que se observou foi um aumento das matrículas nas escolas e classes comuns com diminuição das matrículas em escolas e classes especiais, ou seja, uma inversão na proporção. Conforme o gráfico abaixo, com dados até 2009, observa-se a tendência de diminuição das matrículas em escolas especializadas e classes especiais:
Clique para ampliar. Fonte: MEC (Ministério da Educação).


No entanto, a professora Kátia Amorim chama atenção para o fato de que, embora estes dados sejam positivos, é preciso levar em consideração que a porcentagem de pessoas com deficiência matriculadas na escola é muito pequena em relação ao total da população. Dados de 2008 apresentados nesta aula mostram que existem pouco mais de 700 mil matrículas de alunos com NEE, porém, da população total, 14,5% são pessoas com algum tipo de deficiência, dentre esta porcentagem, 2% são crianças e jovens com NEE, o que totaliza 2.850.604 crianças. Ou seja, dentre mais de 2 milhões de crianças e jovens com NEE, apenas cerca de 700 mil estão frequentando a escola.


E de que forma está ocorrendo este processo de inclusão nas escolas?

Para responder esta pergunta, foi feito um estudo no interior do estado de São Paulo, no qual foram visitadas escolas das redes pública e privada para se obter um panorama da situação da inclusão escolar. A seguir são apresentados os resultados obtidos no levantamento realizado e que foi apresentado nesta aula:

Dificuldades de acesso a informações sobre os alunos: o lugar onde mais facilmente se obtém informações completas sobre os alunos com NEE são as escolas especializadas. Há dificuldades em se encontrar registros das crianças com NEE nas escolas regulares. Há casos de escolas regulares sem qualquer informação registrada sobre os alunos com NEE, o que dificulta muito a organização e a definição de medidas a serem tomadas para atender bem a estes alunos, pois não se consegue saber de suas necessidades individuais.

Diagnóstico: muitas crianças não têm diagnóstico, o que dificulta a obtenção de recursos adequados. O MEC categoriza as deficiências/transtornos, para que a família e escola possam se instrumentalizar no trabalho com estas crianças. Outra dificuldade verificada é a falta de diferenciação entre os graus de deficiência (diagnósticos vagos, por exemplo, uma criança com surdez pode tê-la total ou parcialmente; ou o autismo, em que há diversas categorias e graus).

Um entrave na questão dos diagnósticos é que ele pode por vezes gerar uma situação de que "não há o que ser feito, a criança é assim mesmo", ou seja, uma estigmatização que leva à não ação por parte da escola, criando uma barreira ao desenvolvimento da criança com NEE. O diagnóstico tem a função de permitir uma intervenção mais adequada, e nunca para rotular.

Verificou-se também que a deficiência intelectual é predominante, dentre as dificiências física, visual e auditiva. Também há predominância de meninos deficientes e aqui foi apontada peloa professora Kátia Amorim uma questão de gênero: as meninas sofreriam dupla exclusão, por serem deficientes e por serem do sexo feminino? E quanto aos meninos serem em maior número, meninos agitados transformaram-se em meninos deficientes?

Quanto ao tempo de permanência: na escola pública regular, em geral as crianças ficam entre 1 e 4 anos, ou seja, embora as matrículas estão aumentando o tempo de permanência é muito curto. Nas escolas privadas (com fins lucrativos e filantrópicas), 39% ficam de 2 a 4 anos, podendo chegar a 10 anos.


Em relação à certificação, esta não é dada pelas escolas privadas, assim, tem havido parcerias entre escolas especiais e o ensino regular. Há alunos que passam anos na escola privada e depois vão para a regular para obter certificação. No ensino público regular, a maior parte dos alunos com NEE estão no ciclo I do ensino fundamental. Apenas entre 1 a 5% chegam ao nível médio.

Todos estes dados suscitam reflexões sobre o quanto ainda há para se avançar na questão da Educação Especial. O link abaixo complementa esta discussão:

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/177/o-impasse-da-inclusaomudanca-na-meta-4-do-plano-nacional-243674-1.asp

Vídeo-aula 14: Processos de aprendizagem e implicações para a prática docente

Nesta aula a professora Silvia Colello abordou o processo de aprendizagem, partindo da desconstrução de três mitos: a) que a aprendizagem é consequência do ensino; b) que ela se faz em etapas lineares e cumulativas; c) que aprender é diferente de utilizar o conhecimento.

Segundo os estudos sociointeracionistas (Vygotsky) o modo de aprender está relacionado ao contexto sociocultural, ao ambiente no qual o sujeito vive e se relaciona com pessoas e objetos. Dessa forma, não é possível falar sobre uma aprendizagem separada do contexto sociocultural dos alunos.

Elaborado por Paula G. Oliveira a partir da videoaula 14.


O esquema acima foi apresentado na aula, e mostra que o sujeito aprendiz relaciona-se com outros sujeitos dentro de um universo sociocultural, que por sua vez está envolto ppelo universo da Ciência, que são os saberes formalizados. A Escola tem o papel de relacionar todos estes elementos, estabelecendo relações entre o conhecimento, o universo sociocultural e os sujeitos.

Este processo ocorre por meio de três dimensões: cognitiva (saber fazer), afetiva (querer fazer) e funcional (poder fazer). É preciso que haja sintonia entre estas três dimensões, o que deve ser feito pelo professor por meio de: interação (o encontro com os objetos de aprendizagem), mediação (tornar possível o conhecimento) e linguagem (comunicação por meio de discussão, reflexões e levantamento de hipóteses).

O que faz o sujeito aprender ou não aprender?
Cada ser humano tem suas estruturas cognitivas, que estão aptas a assimilar informações ou conhecimentos de diferentes formas. Dependendo de como a informação chega ao sujeito, ele pode assimilar facilmente, pode assimilar parcialmente, ou pode não assimilar, pois da forma como a informação chegou até ele, não se encaixou em suas estruturas cognitivas.

O esquema abaixo representa um ciclo que faz parte do processo de aprendizagem:

Elaborado por Paula G. Oliveira com base na videoaula 14.

A partir de uma situação problema o sujeito mobiliza suas concepções e saberes prévios para elaborar hipóteses que o ajudem a solucionar o problema. A partir das hipóteses, ele antecipa os resultados e parte para a verificação. Nesse momento pode ocorrer o desapontamento, que levará ao desequilíbrio cognitivo, que por sua vez levará o sujeito a construir novas concepções e saberes.

Foi dito nesta aula que "todo aprendizado traz uma dose de sofrimento, pois é preciso considerar novos pontos de vista, às vezes abrindo mão de nossas concepções".


Como exemplo, foi mencionado um caso típico de criança em fase de alfabetização: a criança associa a escrita ao som da fala, portanto, ela tem esta concepção e elabora a hipótese de que para cada sílaba que falamos, uma letra deve ser escrita (hipótese silábica). Ao verificar esta hipótese, fica sabendo que não é assim, que as sílabas são compostas por mais de uma letra (no exemplo da imagem, a palavra cavalo). Num primeiro momento isto gera o desapontamento e o desequilíbrio cognitivo, mas a partir daí a criança passa a pensar novas hipóteses.


"Felizmente as crianças de todas as épocas e de todos os países nunca esperam completar seis anos e ter uma professora à sua frente para começarem a aprender" (Emilia Ferreiro)

Esta frase mostra que o ser humano é por natureza um ser curioso, e que busca a aprendizagem espontaneamente. Assim, é preciso estimular e resgatar a curiosidade dos alunos por meio de atividades que incluam a interação para buscar soluções, situações de observação, experimentação e pesquisa, o favorecimento de debates, reflexões, criação, atividades que desestabilizem concepções prévias dos alunos, para que exercitem outras formas de pensar sobre um mesmo tema.


Todas estas informações apresentadas nesta aula nos faz refletir sobre quanto a escola que temos hoje constituída, sobretudo na rede pública, contribui para estes processos de aprendizagem. Será que conseguimos, enquanto professores, o tempo todo, em todas as aulas promover um tipo de interação em que os alunos, todos eles, cada um deles, consiga exercitar suas estruturas cognitivas, modificar a forma como olham para as coisas, pensar diferente, aprender de fato? É um grande desafio que se coloca aos professores: exercitar a própria curiosidade e experimentar formas de trabalho que permitam conciliar as necessidades dos alunos e as possibilidades que o ambiente escolar atual oferece.

Vídeo-aula 13: A construção do fracasso escolar: os mecanismos do não aprender e os desafios do professor

O fracasso escolar é um fenômeno ligado ao rendimento acadêmico, medido por meio de avaliações externas, como IDEB, Prova Brasil, PISA, SAEB, entre outras avaliações. Verifica-se que a educação brasileira está muito abaixo do que se espera em termos de aprendizagem dos conteúdos curriculares.

A aula da professora Silvia Colello abordou a questão do fracasso escolar a partir das interfaces que relacionam a escola, o aluno e o mundo, analisando cada uma destas relações e seus desdobramentos. Trata-se de uma abordagem que procura analisar as relações que fazem parte do processo de ensino e aprendizagem, sem o reducionismo da culpabilização do aluno, da família, da escola.

Esquema feito por Paula G. de Oliveira a partir da vídeoaula 13


- A relação entre aluno e o mundo: o primeiro desafio para o professor é trabalhar junto com os alunos no resgate do valor do conhecimento na sociedade em que vivemos, pautada pelos princípios de uma economia capitalista, que valoriza bens materiais e cujos valores estão relacionados ao ter e não ao ser. Nesse contexto, as crianças e adolescentes frequentemente se veem diante de questões como: "Para que aprender?", "O que os estudos vão garantir para minha vida?".

- A relação entre o mundo e a escola: neste ponto da aula foi apresentada uma imagem muito emblemática sobre a situação da escola em relação ao mundo: a escola dentro de uma redoma de vidro, totalmente apartada do mundo real. De fato em muitas áreas a escola está bastante distante da realidade do mundo, sendo uma estrutura que se mantém ao longo de séculos, com poucas e superficiais mudanças. Coloca-se em questão a forma como a escola funciona e um dilema: a aprendizagem da escola é um fim em si mesmo ou o conhecimento adquirido realmente será utilizado ao longo da vida? É preciso sintonizar os conteúdos trabalhados na escola com o momento presente, onde o aluno está, de modo que o conhecimento faça sentido.

- A relação entre escola e o aluno: a forma como se ensina é extremamente importante para os resultados que se obtém em relação a aprendizagem dos alunos. As turmas são heterogêneas, ou seja, cada aluno é um indivíduo com necessidades, história, conhecimentos próprios. Não se pode pensar num ensino uniformizado, no qual os alunos memorizem informações que depois serão devolvidas em provas. Os alunos devem ter participação ativa na construção do conhecimento. É preciso que exista diálogo na relação entre professores e alunos.

No entanto, esta interface "escola-aluno" está intimamente ligada à interface "escola-mundo", pois uma vez que a escola encontra-se "engessada" num modelo que não mais responde às necessidades da clientela atual, do mesmo modo o aluno - que traz informações do mundo para dentro da escola, que por sua vez está praticamente alheia a este - também fica apartado da escola, mesmo estando dentro dela. Daí decorrem situações de alheamento do aluno em relação à escola, que podem gerar apatia ou até mesmo ações de violência, aparentemente sem motivos, mas que podem revelar um descontentamento do aluno em relação à forma como a escola o atende.

O vandalismo na escola pode ter muitas causas, uma delas pode ser a forma que o aluno encontra para demonstrar que não está fazendo sentido participar da escola na forma como ela está posta. Fonte da imagem: Blog Conexão JK



Segundo a professora Silvia Colello, o não aprender se explica a partir de múltiplas dimensões: cultural, social, pedagógica e política. O desafio é lutar por uma escola que seja uma instituição reconhecida, e que os alunos e a sociedade a valorizem.

Vídeo-aula 12: Como vem sendo organizada a educação especial no país

Foi apresentada nesta aula da professora Ana Claudia Lodi um histórico sobre como a educação especial foi se moldando em nosso país, até chegar no atendimento que temos hoje. Esta volta ao passado é essencial para compreendermos o porque de ainda termos tanto a avançar em termos de atendimento à inclusão de alunos com NEE.

 

Vimos que inicialmente no Brasil, havia o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instuto Benjamin Constant) e o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (atual Instituto Nacional de Educação de Surdos), criados no século XIX. Estas duas instituições ainda existem e ao longo da história vieram modificando a forma de atendimento, conforme a educação especial foi sendo compreendida. Em sua origem, seguiam o modelo europeu, especificamente o modelo frances de educação de cegos e surdos. Recebiam meninos de sete a quatorze anos, visando a formação profissional com professores especialistas.

Quanto aos deificientes mentais, o atendimento dava-se em asilos e manicômios, mais ligados a espaços hospitalares e não educacionais. Entendia-se que assim estas pessoas teriam maior cuidado, estando separadas (excluídas socialmente).

Esta realidade começou a se transformar a partir do início da década de 1960, com serviços marcados por uma visão médica de assistência às crianças com necessidades especiais.

Com a LDB de 1961 mudou a forma de se olhar para a educação das crianças com NEE. Surgiu um olhar mais atento sobre o lugar de se educar estas crianças. O serviço de saúde passou a fazer os diagnósticos e encaminhar as crianças para os serviços educacionais que passavam a ser oferecidos:

- Escolas especiais: havia escolas para tipos específicos de deficiência, nas quais equipes multidisciplinares trabalhavam com uma equipe pedagógica. As crianças podiam ser agrupadas por idade ou nível de desenvolvimento. Consideravam-se estas crianças menos capacitadas, por isso o currículo era reduzido. Nas escolas para crianças surdas, cada ano equivalente ao ensino regular tinha duração de dois anos.

- Classes especiais: dentro das escolas regulares separavam-se as crianças com dificuldades em diferentes faixas etárias e estágios de desenvolvimento.

- Instituições especializdas: mantidas por associações, contavam com profissionais da saúde que atuavam em parceria com os da educação. A organização das salas era semelhante ao das classes especiais. Apesar de ter um trabalho pedagógico, não se constituíam como escolas, assim os alunos não recebiam certificação.



Até então vigorava o princípio da integração, no qual existia o convívio com as demais crianças na rede regular de ensino, porém os alunos com NEE deviam contar com o próprio esforço para conseguirem acompanhar as aulas.

No século XXI a integração dá lugar ao princípio da inclusão, segundo o qual prevalece o direito de todos estarem juntos e sem discriminação. Dentro da rede regular de ensino, as escolas devem assegurar às crianças com NEE as condições para que elas possam acompanhar as aulas.

Na prática, a sala de aula regular tem sido um lugar de socialização para as crianças com NEE, que poucas vezes recebem atendimento adequado ou atividades pensadas especificamente para elas. Assim, ficam incluídas por estarem na escola regular e na classe regular, porém está excluída do processo de aprendizagem, o que constituiria uma "inclusão perversa", conforme foi discutido em aula anterior com a professora Kátia Amorim.


Ao final da aula foram colocados aluns questionamentos para reflexão:
- Frente a forma como nosso sistema está organizado, é possivel pensar em educação para todos em igualdade de condições?
- O papel da escola seria apenas buscar a socialização dos alunos com NEE?
- E sua função educacional?
- Esta organização tem favorecido (ou não) a educação de crianças e jovens com NEE?

Um dos fatores que em minha opinião pesam para o sucesso do processo de inclusão é, além da formação dos professores e de toda a equipe da escola, o fato de a estrutura escolar não ser pensada para o público que atende hoje. As turmas são grandes, os professores muitas vezes trabalham com classes com mais de 35 alunos, os quais têm ritmos de aprendizagem e demandas diferentes. Fica realmente difícil atender a todos de modo satisfatório, assim, os alunos com NEE acabam ficando ao largo do processo educativo, participando das aulas apenas por estarem presentes, mas sem serem incluídos de fato nas atividades desenvolvidas. Soma-se a isto o fato de que nem todas as redes de ensino contam com apoio especializado, o que auxilia os professores a pensarem e elaborarem atividades de acordo com as necessidades de cada aluno.

Vídeo-aula 11: Legislações, Declarações e Diretrizes

Nesta aula a professora Lucia Tinós apresentou os principais documentos internacionais e nacionais relacionados à inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) e ao final propôs uma reflexão sobre a importância do conhecimento das legislações e documentos de referência para o trabalho do professor.

A imagem abaixo foi escolhida por representar que as legislações, declarações e diretrizes voltadas para a Educação de pessoas com NEE representam a possibilidade de abertura para novos horizontes, permitindo a elas a possibilidade de integrarem-se com outras pessoas, construir novos círculos sociais e desenvolver-se de maneira mais ampla.



Entre os documentos internacionais, destacam-se:
- 1944: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU) na qual a Educação é um dos direitos fundamentais.

- 1990: Conferência Mundial sobre Educação para Todos (ONU) - Conferência de Jomtien, Tailândia, que reafirma o direito de todas as pessoas, respeitadas suas diversidades (étnica, religiosa, física, mental) à educação.

- 1994: Declaração de Salamanca - Princípios, Políticas e Práticas em Educação Especial, que aborda o direito à educação para alunos com NEE nas escolas regulares.

Fonte: intec-sc.blogspot.com


No Brasil, os principais documentos são:
- 1988: Constituição Federal, que estabelece o direito à educação escolar para as pessoas com necessidades especiais.

- 1996: Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que assegura aos alunos com NEE o acesso ao currículo por meio de métodos, recursos e organização específicos para atender a estes alunos. Lembrar que a LDB surge logo após a Declaração de Salamanca.

- 2000: A lei 10.098 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. Esta lei não se aplica apenas à Educação, mas à sociedade como um todo, prevendo acessibilidade nas cidades, nos meios de transportes, nos locais de circulação públicos.

- 2001: Plano Nacional de Educação, que explicita a responsabilidade da União, dos Estados e Distrito Federal e dos Municípios na implementação de sistemas educacionais. Nesse contexto, qual seria o papel de cada esfera do poder público na implementação do atendimento às NEE?

- 2001: O Decreto 3.956 reconhece o texto da Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as formas de discriminação contra a pessoa portadora de deficiência. Aqui entra a questão de que a matrícula na escola regular não pode ser negada ao aluno com NEE.

- 2002: a lei 10.436 reconhece a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão. Porém, a formação inicial de grande parte dos profissionais de educação não conta com ensino de Libras.

- 2007: Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva, que ressalta a premissa da inclusão escolar. Lembrar que "política" não é sinônimo de lei nem decreto, ou seja, sinaliza uma intenção, que norteia as ações das esferas de poder.

Fonte: Aranãs


Pontos a serem considerados:
Estes documentos surgem em determinados contextos históricos. A DUDH por exemplo, nasce ao final da segunda guerra mundial, que foi um momento de total privação de direitos. No Brasil, além dos contextos, os documentos também têm influência de documentos e acordos internacionais, como Salamanca, um marco na legislação da educação especial para o Brasil.
Estes documentos trazem o princípio da educação como exercício da cidadania, como forma de evitar a marginalização do processo educacional.
A legislação no Brasil é marcada por avanços e retrocessos, ocorrendo por vezes interpretações conflituosas e políticas que nem sempre atendem a quem deveriam atender.

A professora lança duas questões: como garantir a efetivação da legislação? Como usar esta legislação a favor de nosso aluno?

É necessário aos professores conhecer a legislação, para que possa entender o que é o direito à educação, para entender qual seu papel na educação das crianças, para poder buscar apoio em instâncias específicas, lançando mão de tecnologias assistivas (Libras, Braile) e para que possam lutar pelos direitos seus, de professores e também dos alunos com NEE.

A ideia central desta aula pode ser assim sintetizada: Só podemos buscar nossos direitos se o conhecemos de fato. Conhecer a legislação, portanto, é um primeiro passo para que os direitos dos alunos com NEE possam ser reconhecidos e que passem a ser respeitados.